Entendendo as Antífonas

27º Domingo do Tempo Comum Ano B

Sobre a Liturgia (contexto da Liturgia da Palavra)

Família é um sonho de Deus

Neste domingo, a Palavra de Deus trata do matrimônio e de sua indissolubilidade. Eis aqui um assunto muito importante e que gostaria de abordar apenas alguns aspectos e de forma simples.

Quando a gente quer saber a origem de uma coisa, como funciona, se é boa ou ruim, devemos perguntar pela causa, ou seja, perguntar para aquele que a inventou. Pois bem, para saber sobre o matrimônio, perguntemos a Deus que o inventou. Não é o mundo, nem a sociedade moderna secularizada, nem um governo que vão definir ou explicar para nós o que é isso. O matrimônio não foi uma invenção humana de uma civilização, de um país, de um governo, mas de um Deus — do Deus único, que é amor. E Ele, desde o começo, os fez homem e mulher e quis que existisse amor entre eles, e que esse amor fosse fecundo.

No mundo cada vez mais tecnológico, criou-se uma mentalidade aversiva ao que é antigo, porque se diz que é ultrapassado, antiquado, etc. No entanto, nem sempre é assim, e o matrimônio é uma daquelas coisas antigas, tão velhas quanto o homem e a mulher, que nunca será ultrapassado, nunca será velho.

A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo Nosso Senhor. Não quer dizer que Cristo tenha “criado” um matrimônio “novo”, mas que elevou a instituição matrimonial já existente a uma categoria e dignidade que não tinha, e dotou-a de uma eficácia sobrenatural da qual não gozava antes.

Portanto, o matrimônio foi criado por Deus e é uma instituição natural, elevada e santificada por Cristo à categoria de sacramento, ou seja, é um daqueles canais criados por Deus para transmitir a graça.

Hoje em dia, há tantas decepções no casamento de tantas pessoas. Por quê? Porque não vivem seu casamento em Deus, porque não vivem seu casamento no Verdadeiro e Grande Amor, que é Deus, mas confundem amor com muitas outras coisas, como, por exemplo, o sexo. E o amor é muito mais do que isso.

O amor está primeiramente na vontade, não nas emoções ou nas glândulas das pessoas. A grande ilusão dos apaixonados é acreditar que a intensidade da sua atração sexual é a garantia da perpetuidade do seu amor. É por causa dessa falha em distinguir entre o emocional e o espiritual, ou entre sexo — que temos em comum com os animais — e o amor — que temos em comum com Deus — que os casamentos estão repletos de decepções.

O que algumas pessoas amam não é o indivíduo com quem se casaram, mas a experiência de estar apaixonado. O primeiro é insubstituível; o segundo, não. Quer dizer, eu não posso deixar de amar uma pessoa só porque, em algum momento, não me sinto apaixonado por ela. Assim que as emoções deixarem de reagir com sua força primitiva, casais que consideram sentimentalismo e amor a mesma coisa afirmam que não se amam mais.

Se é assim, eles na verdade nunca amaram a pessoa — só amavam ser amados, o que é a forma mais elevada de egoísmo. O casamento baseado em paixão sexual dura apenas enquanto a paixão animalesca durar. Dentro de dois anos, talvez a paixão animalesca de um pelo outro morra. E quando isso acontecer, a lei vem em seu socorro para justificar o divórcio com a palavra vazia de significado chamada “incompatibilidade”.

Os animais nunca recorrem aos tribunais porque eles não têm a resolução de amar, mas os homens, dotados de razão, sentem a necessidade de justificar seu comportamento irracional quando querem fazer algo errado.

Meus irmãos, o amor se doa.

O amor é uma grande doação que cada um se faz de si mesmo para o outro. Doação implica:

– Renúncia de si mesmo: do que é e do que tem, do ser e do que se possui, do afeto e do tempo para cultivar o amor;

Não se casa somente uma vez para sempre, casa-se todo dia.

– Sacrifício: deixar de fazer o que se gosta para agradar a quem se gosta.

O verdadeiro amor é totalmente o contrário deste anseio desordenado de autossatisfação. Ensina São Josemaría Escrivá:

“Às vezes, fala-se do amor como se fosse um impulso para a satisfação própria, ou um simples recurso para completarmos em moldes egoístas a nossa personalidade. E não é assim: amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se. O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria com as raízes em forma de cruz. Enquanto estivermos na terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor. Uma dor que se saboreia, que é amável, que é fonte de íntima alegria, mas que é dor real, porque supõe vencer o egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma de nossas ações.”

Uma das passagens divinamente inspiradas mais belas é aquela em que São Paulo compara o vínculo conjugal ao amor de Cristo pela Igreja: “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o salvador” (Ef 5,22-23), diz o Apóstolo. “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).

Como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela? “Tendo amado os seus que estavam no mundo”, diz São João, “amou-os até o fim” (Jo 13,1): não só até o fim de sua vida, mas “até o cume de toda a possibilidade de amor (…), até à extrema exigência imposta pelo amor”. No altar do Calvário, consuma-se o sacrifício de uma vida inteira doada por amor: a entrega de Jesus pelos seus, pela Igreja. É, sem dúvida, um amor alegre, mas revela-se “em forma de cruz”.

No altar do leito conjugal e da convivência diária, do mesmo modo, consuma-se outro sacrifício de amor: a entrega matrimonial. Esta também é uma bela oferta, que “traz consigo a alegria”, mas, sem dúvida, não é fácil de ser feita. Assim como foi difícil para Jesus encarar o sofrimento da cruz, nesta vida os filhos de Deus que se unem em matrimônio também são chamados a entrar no Getsêmani. No Horto das Oliveiras, há quase dois mil anos, Jesus “entrou em agonia (…) e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra” (Lc 22,44). No vale de lágrimas que é o mundo, hoje, os casais são chamados a doar suas vidas, renunciando a si mesmos em prol do outro e dos seus filhos.

O matrimônio não foi feito para que um indivíduo se faça feliz. Ele foi concebido para que o homem e a mulher, fazendo-se instrumentos do amor divino, daquele amor com que Cristo amou a Sua Igreja, façam-se felizes, um ao outro. O casamento cristão não foi instituído para o egoísmo, mas para a formação da família, pela qual os pais devem se gastar, dia após dia, como Jesus se gastou pelos seus.

Que os casais não se esqueçam destas palavras, que devem moldar a verdadeira paternidade: “Não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício.”

No amor erótico ou egoísta, os fardos uns dos outros são considerados impedimentos à felicidade. Mas no amor cristão, os fardos se tornam oportunidades para servir. É por isso que o símbolo do amor cristão não é um círculo limitado em si mesmo, mas a cruz com seus braços abertos ao infinito para abraçar toda a humanidade que estiver ao alcance.

Para amar, devemos seguir o exemplo:- Do amor de Deus Pai, que tanto amou o mundo que deu Seu Filho único;- De Deus Filho, que deu Sua vida e disse que ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos;- E de Deus Espírito Santo, que é o Espírito de amor, o Amor de Deus derramado em nossos corações.

Mas o amor não consiste tanto em dar-se ao outro, mas em se entregar ao Grande Amor, que é Deus. É Deus quem deve inspirar o amor dos esposos, é Deus quem deve aumentar e fortificar cada vez mais o amor deles. Amor que a Igreja considera algo sagrado e, por isso, o põe ao pé do altar.

Casais, por amor doem-se por toda a vida, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença; por amor doem-se a Deus, que tanto ama vocês, e ensinem aos seus filhos que Deus é amor, e que sem Ele, nenhum outro amor tem sentido. Assim seja. Amém.

Deus abençoe você!

Pe. Fábio Vanderlei, IVE

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Antífona de Entrada

“In volutate tua, Dómine, universa sunt posita, et non qui possit, resistere voluntati tuae: tu enim fecisti ómnia caelum et terram, et universa quae caeli ambitu continentur: Dominus universorum tues. (Est 4, 17c-17e + Sl 118 (119))

Vernáculo: Senhor, tudo está em vosso poder, e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra e tudo o que eles contêm; sois o Deus do universo!

Estrofe: Sl 118

–1 Feliz o homem sem pecado em seu caminho, * que na lei do Senhor Deus vai progredindo!

–2 Feliz o homem que observa seus preceitos, *e de todo o coração procura a Deus!

–3 Que não pratica a maldade em sua vida, * mas vai andando nos caminhos do Senhor.

O trecho da antífona é uma parte da oração de Mardoqueu. O contexto da oração dá-se ao momento em que a rainha Ester pede que rezem por ela pois dependerá dela a salvação do povo. Ela pede que jejuem e orem por esta causa que põe em risco a sua vida. A oração de Mardoqueu é nestas circunstâncias. A atitude da rainha é de grande humildade e na oração de Mardoqueu expressa-se logo de início que o poder é todo de Deus e que ninguém resiste à sua vontade. E assim inicia a intercessão de Mardoqueu pelo destino da rainha Ester pela salvação do povo de Israel.

O Salmo 118 que acompanha a antífona é o salmo da lei! Daquele que se coloca obediente à Palavra e por isso é feliz! Felicidade adquirida pela obediência, não somente daqueles que obedecem mas que procuram viver santamente.

A rainha Ester e Mardoqueu nos ensinam um gesto de humildade ao jejuarem e revestirem-se de saco e cinza, mostrando assim do pó de onde vieram e para que assim orassem ao Senhor para que fosse feita a Sua vontade, demonstrando o completo abandono à Divina vontade.

Iniciando a Santa Missa com esta antífona nós afirmamos o poder de Deus sobre todas as coisas por Ele criadas, inclusive a nós, e, em especial nesta liturgia, pela família, instituição por Ele criada. Somos Israel, Seus servos e nele depositamos o nosso futuro. Não podemos resistir à Sua Vontade, pois Dele viemos e para Ele voltaremos. Assumimos que somos propriedade Dele. Como crianças nos lançamos nos braços do Pai  que nos dá a graça de sermos perseverante no cumprimento de Seus Justíssimos mandados.

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Salmo Responsorial: Salmo 127

℟. O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida.

Este é o salmo da família e é bem comum e conhecido pois é o mais escolhido para as celebrações do Sacramento do Matrimônio.

Quem vive segundo a carne jamais compreenderá o que este salmo vem trazer. É fato que o que vemos hoje são casais que vivem segundo a carne, como explicado anteriormente. As pessoas escolhem a quem se casar pelo prazer que a outra pessoa pode lhe proporcionar, porém, não foi bem assim que as coisas foram criadas. Por este motivo são facilmente desmotivadas pelas circunstâncias naturais da vida.

O refrão do salmo é retirado de um dos versos finais. Sabendo que o salmo inteiro é como uma receita de bolo, temos que, para tudo o que está sendo profetizado teremos a benção de Deus e gozar de uma alegria já aqui neste mundo.

É feliz quem teme o Senhor e segue os seus caminhos. E o que nos pede o Senhor neste salmo? Que o casal seja fecundo, que desta família venha os filhos, que eles se sentem ao redor da mesa; pois é na reunião da família que se dá a educação e todas as orientações para que os filhos também sigam os Divinos preceitos.

É assim que o salmo nos propõe para a vida neste mundo carnal, um olhar espiritual sobre tudo o que nos pede o Senhor. Neste pequeno trecho, fazemos o nosso dia a dia real e necessário, algo transcendental. A luz que nos ilumina a seguir este caminho é o exemplo perfeito da Sagrada Família de Nazaré, no trabalho, no cotidiano, nos revezes da vida, na busca pela santidade, na humildade e enfim, no amor.

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Antífona de Ofertório

Texto Original:

“Vir erat in terra nomine Iob, simplex et rectus, ac timens Deum: quem Satan petiit, ut tentáret: et data est ei potéstas a Dómino in facultáte et in carne eius: perdidítque omnem substántiam ipsíus, et fílios: carnem quoque eius gravi úlcere vulnerávit.”  (Iob 1et 2,7)

Vernáculo: Havia na terra um homem chamado Jó, Íntegro, reto e temente a Deus, A quem Satanás pediu para tentar. E foi lhe dado o poder pelo Senhor em sua mente e sua carne. Destruiu todo os seus bens e seus filhos; Feriu também sua carne com uma grave chaga.

A história de Jó é uma lição de obediência e abandono à vontade de Deus. Há situações vividas por qualquer um de nós em que nós nada podemos fazer a não ser aceitar. É obvio que se há algo para ser feito, devemos fazer, pedindo forças para isso. Porém, diversas são as situações em que o pedido a ser elevado a Deus é apenas o de: “dai-me forças, Senhor!”. Esta é a lição da história de Jó a que se remete a antífona de ofertório.

Fazer dela nossa oração no momento do ofertório é como um completo abandono da carne e da alma aos revezes da vida, conscientes de que tudo é permissão Divina. É preciso um olhar espiritual e não deste mundo para entender.

O trecho colocado também nos lembra de que tantos os bons quanto os maus estão sujeitos a passar pelas intempéries deste mundo, a diferença é que para o cristão as dores sofridas e que não escolhemos tem um sabor de amor, de entrega, de sacrifício, de oferenda, de santificação, assim como é o nosso ofertório em toda Santa Missa.

Neste ofertório, entregamos a nossa vida ao Senhor, corpo e alma, nossa família, nossos trabalho, todos que nos pedem orações, fazendo a Sua vontade em meio às tribulações deste mundo. Com confiança, lançamo-nos como crianças, confiantes na Salvação que vem de Deus, para que, através da graça santificante, possamos dar frutos pelo estado de vida de cada um.

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Antífona de Comunhão

Texto Original: “In salutari tuo ánima mea, et in verbum tuum speravi: quando fácies de persequentibus me iudicium? Iníqui persecúte sunt me, ádiuva me, Dómine Deus meus.” (Salmo 118, 81.84.86)

Vernáculo: Minha alma se consome aguardando vossa salvação Toda a minha esperança está na vossa palavra. Quando fareis o julgamento dos que me perseguem? Ajudai-me contra os que me perseguem injustamente!

O trecho do salmo proposto nesta antífona se aplica muito bem para o momento de recebermos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele que viveu na carne entre nós, convém a todos nós, membros deste mesmo corpo proclamar: “minha alma se consome” em vós! E anseia pela salvação. Esperamos em vossa Palavra, esta é a nossa fé. A esperança faz com que pela paciência se espere o que nós não vemos. Seguimos na antífona ainda procurando paciência para esperar no julgamento, aguentando o que Deus nos permite viver neste mundo.

O salmo também expressa a ansiosa segunda vinda de Cristo. O segundo julgamento. A  Santa Missa, é uma antecipação do que veremos no céu deixada por Jesus na última ceia. É neste momento que nos unimos verdadeiramente a Cristo e formamos assim o seu Corpo Místico.

Ao receber Jesus e meditar nas palavras do salmo 118, o salmo da obediência à lei, suplicamos ao Senhor que nos mantenha firmes na esperança da salvação, amigos do Senhor, conectados à Ele. Que em meio às perseguições e nossa cruz que carregamos, possamos aumentar a nossa fé, confiando que nos mantendo fiéis às práticas de seus mandamentos estaremos no caminho do céu. É isto que Nosso Senhor quer de nós: sermos testemunhas autênticas de Cristo, nosso modelo, dentro de nossas famílias, como filhos e filhas que evangelizam pelas obras.

Escrito por Marcela Buback

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REFERÊNCIAS

SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. Comentário aos salmos. Paulus, São Paulo – SP, 2008.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 8ª impressão, 2012.

CNBB, Missal Dominical. Missal da Assembleia Cristã.