Entendendo as Antífonas

26º Domingo do Tempo Comum Ano B

Sobre a Liturgia (contexto da Liturgia da Palavra)

Caríssimos irmãos e irmãs, nesta liturgia do 26º domingo do tempo comum, o Evangelho nos sugere os seguintes temas: primeiro, o exorcista desconhecido, segundo, as ocasiões de pecado e terceiro a perda da alma.

1. O exorcista desconhecido: aprender a reconhecer os dons dos outros

Ninguém pode acreditar ser dono “exclusivo” do nome de Cristo. Deus não está ligado exclusivamente a ninguém. Ele mesmo se encarrega de autorizar e desaprovar quem quiser usar seu nome. Temos um exemplo disso no livro dos Atos dos Apóstolos, quando alguns exorcistas judeus itinerantes queriam expulsar alguns demônios usando o nome de Jesus: “Alguns judeus exorcistas que percorriam vários lugares inventaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que se achavam possessos dos espíritos malignos, com as palavras: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. Assim procediam os sete filhos de um judeu chamado Cevas, sumo sacerdote. Mas o espírito maligno replicou-lhes: Conheço Jesus e sei quem é Paulo. Mas vós, quem sois? Nisto o homem possuído do espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois deles e subjugou-os de tal maneira, que tiveram que fugir daquela casa feridos e com as roupas estraçalhadas” (Atos 19,13-16).

Isto deveria fazer-nos tender para a verdadeira humildade. Não somos nós que dizemos a Deus como, a quem ou em que medida distribuir os seus dons. Devemos manter os olhos abertos para os dons que ele reparte, em maior ou menor medida, aos outros. A tendência natural que nasce do apetite desordenado da excelência faz-nos ver como “estranhos” todos aqueles que não pensam igual a nós (ou seja, em temas que não afetam a fé nem a moral). Como na fábula de Castellani:

“A ovelha e o carneiro olharam para o cão pastor. A ovelha disse: “Que cara legal!” — “Ele é um cara estranho”, disse o carneiro. “O que significa ser estranho?” – a ovelha perguntou. “Ser estranho é não ser como eu”, disse o Carneiro.

A humildade é antes de tudo uma virtude pessoal: faz-nos considerar-nos inferiores aos outros, ou pelo menos dentro dos nossos justos limites, reconhecendo os dons dos outros. Mas é também uma virtude “social”: deve fazer o mesmo com grupos e nações. Às vezes você se considera humilde porque sabe que é pequeno como indivíduo, mas tem orgulho de acreditar que pertence a um grupo melhor ou a um estado, região ou País melhores. É assim que começam as disputas entre países e o ódio étnico. Ninguém está isento desta tentação. É por isso que devemos estar sempre conscientes de que não somos de forma alguma os melhores.

2. Ocasiões de pecado: A ocasião é algo externo ao homem (uma coisa, uma pessoa, um fato) que o coloca em perigo de pecar.

Assim, por exemplo, é uma ocasião para o pecado: um livro, revista, site ou rede social com figuras obscenas; uma piada ou música de duplo sentido; um filme ruim; vestido imodesto; um olhar provocador; um mal programa de televisão etc.

Tipos de ocasiões: uma ocasião pode ser próxima ou remota.

a) Entende-se por ocasião próxima uma coisa, uma pessoa ou um fato que nos faz facilmente cair no pecado. Por exemplo: uma criança sabe que indo à casa de um amigo, sempre ouve e participa de conversas obscenas. Neste caso, essa criança está enfrentando uma ocasião próxima de pecado.

b) Entende-se por ocasião remota uma coisa, uma pessoa ou um fato que não implique perigo de queda fácil. Por exemplo: uma criança vai à casa de um amigo que às vezes conta piadas inapropriadas que dificilmente aceita. Essa criança está diante de uma ocasião remota de pecado.

Comportamento diante das ocasiões: O homem é estritamente obrigado a evitar todas as ocasiões próximas de pecado. Ao confessar você deve estar disposto a abandonar essas ocasiões, caso contrário não se confessará bem.

A Sagrada Escritura diz: “Quem ama o perigo nele cairá” (Eclesiastes 3,27). Aquele que, em matéria grave, se expõe voluntariamente a uma ocasião próxima comete um pecado mortal (Isso é como alguém dizendo: “Sei que tal lugar é perigoso. Sei que isso me fará pecar.” Mesmo assim o faz, então peca).

Meios positivos para evitar pecar: os meios positivos de não pecar contra o sexto e o nono mandamentos podem ser naturais e sobrenaturais.

Meios naturais

a) Mortificação e vigilância dos sentidos, especialmente dos sentidos da visão e do tato. Desde a infância temos que nos acostumar a sermos vigilantes e mortificados. Os ouvidos são as janelas pelas quais o pecado entra na alma. E um corpo não mortificado facilmente se entrega ao pecado.

Você demonstrará na vida que é realmente uma pessoa e não um brinquedo de suas paixões, se souber mortificar os ouvidos e dizer “Não!” para o seu corpo. Para isso você deve se exercitar, privando-se inclusive de certas coisas lícitas, porém desnecessárias, por exemplo, privar-se de alguns doces, de assistir algum filme etc.

b) Boas leituras: É preciso ocupar a inteligência com leituras saudáveis de acordo com a idade. Essas leituras podem ser espirituais e descontraídas. Entre as espirituais, a vida de Jesus, nosso amigo e modelo, deve ocupar um lugar de preferência. E entre aquelas de entretenimento, devemos escolher as que deixam algum ensinamento útil.

c) Trabalho adequado: Outra forma de evitar pecados é exercer um trabalho proporcional à idade e ao sexo de cada um, principalmente durante o período de férias. Cuidar do jardim, pintar, varrer, bordar, ajudar os pais nas tarefas de casa.

d) Entretenimento saudável: Entretenimento saudável e passeios na hora certa mantêm o corpo e o espírito saudáveis e em harmonia. Essas diversões e passeios também devem ser adequados à idade e ao sexo de cada um: aproveite para desfrutar e se divertir ao ar livre.

Meios sobrenaturais

O sobrenatural significa que toda pessoa que deseja evitar cair contra o sexto e nono mandamentos precisa principalmente de quatro meios: a oração, o pensamento da presença de Deus, os santos sacramentos da confissão e da comunhão e a devoção à Santíssima Virgem.

a) Oração: Jesus disse “Vigiai e orai para não cair em tentação”. A oração é necessária para fortalecer o espírito e poder vencer as tentações.

b) O pensamento da presença de Deus: Quando alguém lembra que Deus nos vê sempre e em qualquer lugar, será difícil cair em pecado. A presença de Deus também traz a memória do inferno e do céu.

c) Os santos sacramentos da confissão e da comunhão: Através da confissão o homem é corrigido dos seus maus hábitos, se os tiver, ou é preservada deles. Através da comunhão ela fortalece o seu espírito para lutar contra as paixões desordenadas.

d) Devoção à Santíssima Virgem: O devoto da Mãe de Jesus sempre recebe graças especiais para sair vitorioso nessa luta.

Meus irmãos, afirma nosso Senhor: “É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’” (Mc 9,47-48).

3. Podemos perder a alma: triste coisa será, mas será possível: a perda da alma é a perda de tudo.

1) Pensemos a grandeza desta perda: Perde-se tudo porque se perde o mais importante e sem a possibilidade de recuperar; É uma perda total e por nada: perdendo a alma se perde tudo. Por isso Santo Inácio dizia a São Francisco Xavier: “De que vale o homem ganhar o mundo inteiro, se vier perder a sua alma?” (Mt 16,26); É a perda total porque o resultado desta perda é a condenação eterna. Só há duas eternidades, entre as quais não existe meio termo: Quem não se salva se condena. Deus criou o mundo para a vida eterna: “vosso paralelo é a vida eterna” (Romanos 6,22).

2) Às vezes agimos como insensatos: Porque cremos na eternidade, mas vivemos como se não crêssemos. Não cremos porque não tememos. Compreendemos o que significa a palavra “eternidade”? São Filipe Neri dizia: “Quem não se aplica em salvar a alma está louco”. E a Bíblia no livro do Deuteronômio (32,29) diz: “Se fossem sábios, compreenderiam estas coisas, meditariam em sua sorte final”. Jesus disse ao rico insensato: “Nessa mesma noite te será pedido contas a tua alma” (Lc 12,20).

3) E além disso, uma vez que se perdeu a alma se perdeu para sempre: Morre-se uma só vez. Perder a alma uma vez é perdê-la para sempre. Existem coisas que são irreparáveis. Santo Eusébio dizia: “Não há erro maior que descuidar do negócio da salvação”. Erro que sobrepassa todo erro, porque não tem remédio. Nesta vida em que estamos todos somos peregrinos do céu, ainda que caminhemos por diferentes caminhos.

Devemos agir como pessoas sábias. Como? Primeiro, trabalhando por nossa salvação com temor: São Paulo escreve aos Filipenses 2,12: “Com temor e tremor trabalhai para vossa salvação”. Segundo, recordando que o Reino dos Céus deve ser que conquistado e que os que ficam de braços cruzados terminam perdendo-o. No Evangelho está escrito “O reino dos Céus… os esforçados o conquistam” (Mt 11,12).

Uma vez um poeta escreveu: “Eu, para que nasci? Para salvar-me. Que tenho que morrer é infalível. Deixar de ver a Deus e condenar-me. Triste coisa será, mas possível. Possível! E rio, e durmo, e quero folgar-me? Possível! E tenho amor ao que é visível? O que faço? Em que me ocupo? Com que me encanto? Louco devo ser, pois não sou santo!”

Que Nossa Senhora, nossa Mãe Santíssima, nos conceda a graça de viver plenamente os ensinamentos de Jesus. Assim sejam, amém.

Deus abençoe você!

Pe. Fábio Vanderlei, IVE

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Antífona de Entrada

Em Latim: Omnia quae fecísti nobis, Dómine, in vero iudício fecísti, quia peccávimus tibi, et mandátis tuis non obedívimus: sed da glóriam nómini tuo, et fac nobíscum secúndum multitúdinem misericórdiae tuae. Ps. Beáti immaculáti in via: qui ámbulant in lege Dómini. (Dan. 3, 31. 29. 30. 43. 42; Ps. 118)

Vernáculo: Senhor, tudo o que fizestes conosco, com razão o fizestes, pois pecamos contra vós e não obedecemos aos vossos mandamentos. Mas honrai o vosso nome, tratando-nos segundo vossa misericórdia. (Cf. MR: Dn 3, 31. 29. 30. 43. 42) Sl. Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! (Cf. LH: Sl 118, 1)

Esse trecho da antífona de entrada refere-se ao Cântico de Azarias. Esta oração é feita em meio ao fogo. Para entender o contexto, precisamos voltar um pouquinho nesta história.

O Rei Nabucodonosor mandou confeccionar uma enorme estátua de ouro e obrigou todos os povos a adorar a tal estátua quando ouvissem o tocar de instrumentos musicais. Aquele que não prestasse adoração seria lançado na fornalha de fogo ardente. Os jovens Misael, Ananias e Azarias se recusaram a adorar a estátua e por isso foram lançados na fornalha. Em meio ao fogo, Azarias começa esta oração (antífona de entrada) em formato de cântico.

O louvor começa bendizendo ao Senhor por suas obras e justiça e, em meio à oração, ele confessa seus pecados, pois sabe que não obedeceram aos mandamentos, porém, mesmo em meio ao fogo clama pela misericórdia de Deus. Eles são atendidos e, após a oração, um anjo do Senhor desce até à fornalha e os refresca do fogo que não os atinge nem machuca e nem o cheiro da fumaça os toca. Depois disso eles louvam e glorificam a Deus através de um canto muito conhecido chamado “Louvor das criaturas ao Senhor” geralmente cantado na Liturgia das Horas principalmente nas festas dos mártires Apóstolos.

O salmo 118 que acompanha esta antífona é o salmo da lei. O início revela-nos o segredo da verdadeira felicidade. É caminhando longe do pecado que vamos crescendo na graça. É uma exortação necessária: se quer ser feliz mantenha-se em estado de graça. Fato é que não é de qualquer jeito que buscamos a Sagrada Eucaristia, mas com o coração limpo, digno de receber o Rei.

Cantamos esta antífona na entrada da Santa Missa neste 26º Domingo do Ano B, sabendo que sem o auxílio do Senhor é necessário à nossa salvação, não conseguiremos sozinhos. O Senhor nos envia anjos para nos ajudar, mas é necessário que caminhemos fazendo sua vontade, praticando Sua Palavra, para nos manter afastados das ocasiões de pecado, termos forças de vencê-las. Tudo começa com o louvor a Deus por ser a fonte de todo o bem e depois um pedido de misericórdia, pois não somos dignos. Mesmo em meio ao “fogo” destes tempos continuemos firmes louvando o Senhor e fazendo sua justíssima vontade, mesmo que custe nossa vida.

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Salmo Responsorial 18

℟. A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração.

A lei do Senhor é perfeita! Ou seja, não precisa ser mudado ou adaptada aos tempos, ou realidades, “é perfeita”. Assim como Jesus veio para dar pleno cumprimento à lei, nós também devemos seguir seus santos exemplos. Ele nos deu seu testemunho fiel. São coisas escondidas aos sábios e reveladas aos pequeninos; porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a graça aos humildes. Assim como pronuncia no Evangelho deste domingo: “se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem…”.

“É puro o temor do Senhor, imutável para sempre.” É o temor de quem busca não ofender a Deus. É o amor puro e que permanece “imutável” que não se adapta à realidades, que é para sempre. “Os julgamentos do Senhor são corretos e justos igualmente.”

Neste salmo precisamos entender o que cantamos. Os papagaios e outras aves também cantam e imitam, mas não sabem o que cantam. Nas palavras de Santo Agostinho:

“Cantar sabiamente é dom da vontade divina à natureza humana. Sabemos que lamentavelmente muitos homens maus e luxuriosos cantam canções dignas de seus ouvidos e de seus corações. Tanto piores são quanto não ignoram o que cantam. Sabem que cantam infâmias e cantam-nas com gosto tanto maior quanto mais imundas são. Consideram-se alegres na medida que são torpes. Nós, porém, que aprendemos na Igreja a cantar as palavras de Deus, juntos esforcemo-nos por ser o que está escrito: “Feliz o povo que entende o júbilo” (Sl 88,16). Por conseguinte, caríssimos, devemos também com serenidade de coração conhecer e ver aquilo que cantamos com vozes uníssonas. Cada um de nós neste cântico rogou ao Senhor, dizendo a Deus:” “E vosso servo, instruído por elas, se empenha em guardá-las. Mas quem pode perceber suas faltas? Perdoai as que não vejo!”

Cantando este salmo nesta liturgia nós proclamamos que a lei do Senhor Deus é única e que não muda. Ela alegra a nossa alma (alegria ao coração), lugar em que só Deus penetra. Sabemos que Jesus, o próprio Deus veio cumpri-las e por este motivo com alegria procuramos imitar. Imitamos no nosso agir e em nossas ações e não com palavras. Ao final, um pedido de humildade: “preservai vosso servo do orgulho”, pois sabemos o quão fracos somos e que precisamos de Seu Divino auxílio.

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Antífona de Ofertório

Em latim: Super flúmina Babylónis, illic sédimus, et flévimus, dum recordarémur tui, Sion. (Ps. 136, 1)

Vernáculo: Junto aos rios da Babilônia nos sentávamos chorando, com saudades de Sião. (Cf. LH: Sl 136, 1)

Este salmo é um clamor dos exilados, salmo de súplica coletiva. O povo estava longe de sua terra natal. Na Babilônia são escravos e por isso choram. Desistem de cantar e tocar (“penduramos nossas harpas”), pois sentiam-se sem motivos para isso. A situação se agrava quando os guardas exigem que eles toquem, exigem alegria mesmo em meio à tristeza. Eles não sentem a menor vontade de cantar naquela situação.

Sabemos que vivemos em uma cidade e que há outra cidade a qual ansiamos. A cidade que teremos a paz eterna chama-se Jerusalém (visão da paz), e a cidade que vivemos, este mundo, chamamos de Babilônia (confusão).  

Cantamos este salmo na apresentação das oferendas, com piedoso afeto e religioso desejo da cidade eterna, a qual antecipamos em toda Santa Missa sob véus da fé. A esperança é na fidelidade de Deus que através de Jesus nos mostrou que participando de sua Morte e Ressurreição através da Santa Missa, e sendo fiéis aos seus mandamentos, Deus não nos deixará perecer em “Babilônia” pois nos predestinou a sermos cidadãos de “Jerusalém”. Portanto, sejamos obedientes à Sua palavra, livrando-se nos afastando das situações de pecado que não agradam a Deus com humildade e esperança. Sejamos, em meio à “Babilônia”, faróis de Cristo que ilumina o caminho daqueles que ainda não enxergam a “Jerusalém”.

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Antífona de Comunhão

em latim: “Memento verbi tui servo tuo, Domine, in quo mihi spem dedisti: haec me consolata est in humilitate mea.” (Salmo 118,49.50)

Vernáculo: Lembrai-vos da vossa palavra ao vosso servo, Pela qual me destes esperança. Isto me consola na minha humilhação. Estrofes: Sl . 118, 1. 2. 25. 28. 41. 74· 76. 81. 82. 114

O salmo da lei aparece mais uma vez nesta liturgia nos relembrando que é através da fidelidade aos mandamentos de Deus que poderemos alcançar o céu e a felicidade ainda aqui nesta terra. A antífona de comunhão destaca os versos 49 e 50 que nos mostram “confiança e consolo nos conflitos”. O salmista sente-se um peregrino e, ainda assim, confiante nas promessas de Deus (“vossa palavra ao vosso servo”).

Que “palavra” é essa? Por que ele quer que Deus se lembre? Por acaso Deus se esquece?

O que se aplica aos homens, não se aplica a Deus. “O plano do Senhor permanece eternamente”(SL 32, 11), assim se diz quando ele se esquece quando parece retardar o auxílio ou cumprimento de suas promessas. Deus realiza tudo por decisão certa, sem falha de memória, nem obscurecimento da inteligência, nem mudança da vontade. Quando o salmista pede “lembra-se”, significa o desejo suplicante, pedindo o que foi prometido, ou seja, como o desejo de que a vontade de Deus seja cumprida.

E qual a sua humilhação? Por que isso lhe consola?

Como está nas escrituras: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4,6; 1Pd 5,5). O próprio Jesus proferiu: “Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”(Lc 14,11). Esta humilhação dita no salmo é aquela de quem sofre tribulação ou rejeição, merecidas pela soberba, ou quando se exerce ou prova a paciência, sabendo que o salmista confessou o seu pecado.

Ensina-nos o livro da Sabedoria: “Na dor, suporta, e nas vicissitudes de tua pobre condição sê paciente, pois o ouro e a prata se provam no fogo e os homens eleitos, no cadinho da humilhação” (Eclo 2, 4.5).

A humilhação é o momento do encontro da nossa fraqueza humana, a vergonha do reconhecimento do pecado que nos leva à morte, mas o consolo é a esperança da promessa da vida eterna. É um consolo saber que se perseverarmos até o fim seremos salvos.

Cantamos este trecho do salmo 118 na comunhão pedindo a Deus que se cumpra sua promessa, não nos deixe perecer. Seu Corpo e Sangue revigora as nossas forças para que não resistamos a fazer Sua vontade e nos afastemos das ocasiões de pecado como nos lembra o Evangelho (corte-os!) mas que não façamos isso sem humildade, pois o Espírito fala aonde quer.

Nesta comunhão deste 26º Domingo Ano B, peçamos a Deus a graça de sermos humildes para obedecer a Seus mandados, para permanecer fieis nos sacramentos, para entender que a graça de Deus pode estar aonde menos esperamos, mas que um só é o caminho. O caminho é esse: conversão diária e cumprimento de Sua justíssima vontade. Que sejamos dóceis à Divina Vontade, acolhendo nossas cruzes do dia a dia com amor, para que unidos com Jesus possamos buscar a santidade.

Escrito por Marcela Buback

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REFERÊNCIAS

SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. Comentário aos salmos. Paulus, São Paulo – SP, 2008.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 8ª impressão, 2012.

JOSÉ BORTOLINI. Conhecer e rezar os salmos. Comentário popular para nossos dias. 1ª edição. Editora Paulus, 624p.